Um lado bom por trás do estereótipo: o trabalho social das organizadas
É claro que a associação automática ao nome das uniformizadas é com a imagem de confrontos sangrentos. Mesmo quando os vândalos que atrapalham o futebol não são sócios de organizadas, a culpa recai sobre tais entidades, por conta do longo histórico que elas construíram dos anos 1990 pra cá (como mostrou a primeira parte deste especial).
Embora poucos tenham conhecimento dos projetos sociais desenvolvidos pelas torcidas, eles não são nada escassos. Desde campanha do agasalho no inverno a coleta de brinquedos no dia das crianças e no Natal, as organizadas seguem em busca da ajuda ao próximo e de mudarem a concepção dos que pregam sua extinção.
A Máfia Azul, maior facção do Cruzeiro, é um grande exemplo disso. Em sua página oficial na internet, a entidade tem um setor dedicado a diversas lutas sociais, como o combate às drogas, ao racismo, às armas, entre outros. Além disso, a Máfia acumula ações filantrópicas em Belo Horizonte, como campanhas de doação de sangue e entrega de alimentos a pessoas carentes. No site, são divulgados até as condições para se tornar doador.


Com a fiscalização do Ministério Público, que pressiona as T.O. e busca os crimes cometidos por membros destas, a iniciativa social das entidades cresceu, especialmente no estado de São Paulo. Não só nos principais centros, mas também nas sub-sedes espalhadas pelo interior.
Fundada oficialmente em 1999, a Gaviões da Fiel Piracicaba, por exemplo, já demonstrava preocupação em ajudar necessitados antes se oficializar como sub-sede da entidade. À época em que era somente um ponto de encontro de associados da organizada, o grupo responsável já promovia campanhas do agasalho e contra a fome.

Na opinião de Caio Bueno, 22, são-paulino que defende as uniformizadas, os trabalhos sociais não são divulgados por preconceito da imprensa. “Para eles é conveniente mostrar só pancadaria, sangue e polêmica. Vi uma ou duas reportagens em toda minha vida sobre a solidariedade das organizadas. A visão deles é um estereótipo generalizado. E toda generalização é uma grande burrice”, disse.
De fato, o arquétipo do torcedor organizado como um baderneiro está marcado na mente de boa parte da sociedade. E as bárbaras agressões entre torcidas rivais geram mais audiência do que atos solidários. É tudo uma questão de interesses e, acima de tudo, confusão entre erros individuais e punição coletiva.