
Os
desfalques e os menos de quinze dias de trabalho servem como
justificativas aceitáveis para qualquer deslize num início de temporada.
Além disso, o Estadual não tem o peso de outros tempos, ficando
posicionado no calendário como uma espécie de extensão do período de
preparação.
Ainda assim, o vascaíno tem motivos para se preocupar com o que viu
em São Januário na derrota por 1 a 0 para o Resende na estreia do
campeonato carioca, resultado que encerrou com uma invencibilidade de
sete meses em seus domínios. Principalmente porque o time de PC Gusmão,
mesmo na atuação de razoável a boa no triunfo sobre o Cerro Porteño
também pela vantagem mínima no sábado, apresentou problemas táticos de
difícil solução pelas características de titulares incontestáveis.
A começar por Fágner e Ramon, que são laterais ofensivos, trabalham
bem com a bola, procurando as ultrapassagens em velocidade. Mas
defensivamente são frágeis, instintivamente saindo à caça dos
laterais/alas do adversário na intermediária e não guardando o
posicionamento mais próximo dos zagueiros de área numa linha de quatro
defensores. Os dois também encontram sérias dificuldades em fazer a
cobertura da zaga por dentro, até porque a estatura não ajuda.
No meio-campo, Carlos Alberto está de volta. Em condições normais, PC
o escalaria à frente de três volantes num 4-3-1-2 que varia para o
3-4-1-2 com o recuo de um deles para a defesa. Foi assim que o treinador
trabalhou no Ceará e no próprio Vasco em 2010, exatamente para liberar
os laterais como alas e o meia de ligação para encostar na dupla de
ataque.
Mas o time cruzmaltino também tem Felipe. Líder, habilidoso, passe
diferente, história no clube…mas marca pouco, ou quase nada. Mesmo com
formação de lateral. PC vem tentando encaixá-lo como um meia mais
recuado, quase um volante, pela direita.
Como Felipe não tem mais velocidade para buscar a linha de fundo, a
ideia é que ele use seu pé canhoto para driblar cortando para dentro e
concluir ou servir os atacantes. Tudo isso sem disputar espaços com
Carlos Alberto e também Éder Luís, que ao invés de se movimentar pelos
flancos para que Marcel se fixasse na área, ficou mais preso do lado
esquerdo e tornou as ações ofensivas previsíveis.
Tudo isso acaba estourando nos volantes Allan e Rômulo. O primeiro,
mais plantado à frente da zaga, várias vezes precisou fazer a cobertura
por um dos lados como um terceiro zagueiro. E o outro, que teoricamente
ocuparia o lado esquerdo do losango no meio-campo, teve que recuar pelo
centro para que a entrada da área não ficasse abandonada.
A
estrutura inicial do Vasco: 4-3-1-2 com Felipe pela direita e Carlos
Alberto na ligação. Laterais saem demais e sobrecarregam volantes e
zagueiros.
O sacrifício cobrou o seu preço e, com o cansaço e as chances
desperdiçadas, vieram as punições para os jogadores com menos “grife”
entre os titulares: Allan saiu para a entrada de Misael, com o Vasco
passando a atuar num 4-3-3, e Rômulo foi sistematicamente vaiado pela
lentidão na saída de bola de um time desesperado atrás do gol salvador
que não veio.
E no contragolpe dos visitantes que já vinha sendo ensaiado ao longo
do segundo tempo, o cruzamento da direita encontrou Alexandro livre,
entre Cesinha e Douglas, na frente de Fernando Prass. Fágner estava na
intermediária. Como um ala, não lateral.
O 4-3-3 do segundo tempo que abriu ainda mais o time de PC Gusmão e facilitou os contragolpes do Resende.
É óbvio que com as estreias oficiais de Anderson Martins e Eduardo
Costa e, principalmente, o retorno de Dedé, melhor zagueiro do último
Brasileirão, a tendência é que o desempenho defensivo, ao menos no
confronto direto, melhore consideravelmente. Os progressos na preparação
física e no conjunto também devem tornar o time da Colina menos
vulnerável.
A questão é minimizar o aparente “descasamento” das características
de laterais e meiocampistas que tornam a equipe frágil sem a bola e, até
agora, sem volume de jogo e contundência ofensiva que justifiquem a
manutenção da estrutura tática e do plano de jogo.
Uma alternativa seria deslocar Carlos Alberto para o ataque no lugar
de Marcel. A equipe novamente ficaria sem uma referência na frente, mas
teria o talento do capitão ainda mais perto da zona de decisão. Além
disso, Felipe poderia voltar a jogar na ligação e a entrada de mais um
volante liberaria os laterais, reequilibrando o time.
Uma
alternativa com time completo: 4-3-1-2 que alterna para o 3-4-1-2 com o
recuo de um volante, liberando os laterais e Felipe para articular as
jogadas procurando Éder Luís e Carlos Alberto na frente.
Vale um teste. Ou todos os possíveis num momento propício às
experiências, mesmo com a pressão da sofrida e impaciente massa
cruzmaltina.
A hora é agora, para mudar e reagir.